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Capítulo 2 – Encontro dois gatinhos bem grandes...


FOI ENTÃO QUE TIVE O SONHO MAIS ESQUISITO DE TODA A MINHA VIDA. Sonhei que estava em um lugar estranho, como se fosse outro mundo. O céu era nublado, cheio de nuvens verde claro, que projetavam a mesma cor no chão. Existiam vários portais de pedra que não levavam a nenhum lugar. Ao longe eu podia ver algumas construções, entre elas algo parecido com uma piramide.  Os portais eram bonitos, com detalhes de ouro, prata e bronze. Olhando com atenção, percebi que as sombras projetavam letras, símbolos e desenhos que eu não conhecia.

Não havia ninguém por ali, eu estava sozinha. Aproximei-me de um dos portais e fiquei admirando os desenhos. De repente ele começou a brilhar. Em vez de mostrar a paisagem por trás dele, uma intensa luz branca brilhou tão forte que tive que tampar meus olhos com as mãos. Dei vários passos para trás, até que algumas figuras começaram a atravessar o portal.

Era uma garota de uns vinte anos, vestida de calça jeans e blusinha preta. Seu cabelo castanho estava preso em uma trança e ia até a cintura. Seus olhos também eram castanhos e ela sorria pra mim.

O problema eram as companhias dela. Dos lados dela estavam dois tigres, um branco como a neve e um negro como a escuridão. Os dois eram enormes e bonitos. Eles se sentaram ao lado dela e ficaram me olhando tranquilamente. Percebi que eles não me fariam mal (o que não fez com que minhas mãos parassem de tremer).

Ao fundo, pude ver uma linda mansão com com muito verde em volta. Estava claro que eles estavam vindo da Terra, ou de algum lugar semelhante. Nunca tinha sido tão criativas em sonhos. Na verdade eu costumava me esquecer de tudo que sonhava. Que coisa pra se lembrar dentro de um sonho.

Nós nos olhamos por alguns momentos. Eu fiquei de olho nos felinos, com mede de que não tivessem feito a última refeição e resolvessem comer Déb a La'carte. Foi a garota quem começou a falar.

- Bem vinda ao Salão das Eras, Deb.

- Salão das Eras?

Estava parecendo muito mais um grande quintal das eras que um salão, mas achei melhor poupar a menina (e os lindos e perigosos tigres) de minha piada sem graça.

- Isso mesmo – ela disse com um grande sorriso, acenando com uma mão para todo o salão. Depois, ela acariciou seus enormes tigres atrás das orelhas. – Aqui é o centro de conhecimento do universo. É o lugar onde você pode entrar em contato com o que foi, é e será.

- Hum... não entendi bulhufas.

Ela riu. E o que parecia estranho era que os dois tigres pareceram se divertir com o que eu disse, se é que tigre pode achar algo engraçado.

- Não esquenta com isso. Aos poucos você começara a entender. Este lugar é onde você poderá encontrar respostas e ajuda daqueles que enfrentaram o mal do caos antes de você e, onde poderá ajudar aqueles que o enfrentarão depois de você. Saiba que não é a única vítima de ataques e tramoias dos servos do caos. Aqui você encontrará apoio para enfrentar aqueles que tramam contra sua vida.

- Bia? Você está falando da Bia?

- Sim – ela disse com uma expressão sombria. – Mas ela é apenas uma das servas daquele que orquestra o mal contra você. Seu inimigo é muito mais poderoso.

Fiquei olhando para a menina sem entender. O que eram forças do caos? Quem era esse inimigo e porque ele queria me matar? Como se lesse meus pensamentos ela disse.

- Tudo será respondido no seu devido tempo. Assim que você se lembrar quem realmente é, poderá voltar aqui e obter mais respostas.

- Quem eu sou? Eu sou eu, ué. Por que minha diretora virou uma mulher cobra e quis me matar não faço a menor idéia.

A menina pensou por uns momentos.

- Mulher cobra... sim, acho que podemos chamá-la assim. Ela é filha de Equidna, então o termo se aplica corretamente.  

O tigre branco olhou pra ela e rugiu baixinho. Eu descartaria a ideia de que ele estava falando com ela se a menina não olhasse para ele e assentisse com a cabeça. Então ela olhou para o tigre negro e ele rugiu para ela e balançou a cabeça negativamente.

- Meus amigos acreditam que um esforço das forças do caos está sendo feito para tirar-lhe a vida ou capturá-la. Alguns acreditam que você seria uma valiosa refém ou fonte de informação sobre sua família. Outros preferem que você seja morta. Esperam assim impedir de alguma forma que a Profecia do Apocalipse se cumpra.

Essa menina tava me lembrando muito o Rod quando ele tem seus surtos de nerdice. Eu tava muito a fim de jogar água na cara dela.

- Do que raios você está falando?

A garota ergueu as mãos fazendo sinal para que eu me acalmasse.

- Desculpe, esqueci que você não lembra de nada. Certo, vamos fazer assim: por enquanto você esquece tudo isso. Quando suas memórias começarem a voltar, falaremos sobre isso novamente. Até lá, creio que os outros estarão aqui, pelo menos a grande maioria.

Eu definitivamente estava achando este o sonho mais doidão que eu já tive. Memórias? Os outros? Pessoas querendo me matar? Definitivamente eu queria estar bem longe dessa doida, mesmo que tudo não passasse de um sonho.

- Olha, eu não estou entendendo nada do que você está falando. Afinal, quem é você?

A menina sorriu. O tigre branco se levantou enquanto o negro rugiu. Eles eram lindos.

- Sou a serva de Durga, mas não é bom você saber meu nome. Nomes tem poder, lembre-se disso. Por enquanto, me chame de K.

- K... Que tipo de nome é esse?

Ela apenas continuou sorrindo. O tigre branco olhou para mim e disse.

- Agora, princesa, está na hora de você acordar.

Tudo ficou escuro, enquanto eu era sugada para outro lugar.

--- XXX ---

Acordei coberta por um lençol branco. Sentei-me, assustada e olhei ao redor. Não tinha homem de fogo nem mulher cobra por perto. Apenas uma enfermeira sentada do lado da cama.

- Calma - disse a enfermeira. Pelo que me lembrava, seu nome era Angélica. - Está tudo bem agora. Você está na enfermaria.

Estava meio zonza. O que eu estava fazendo ali?

- Eu... o que...

- Você desmaiou na sala de aula e o professor Tiburso trouxe você aqui. Como está sua cabeça?

- Eu... não...

- Respire fundo e deite-se. Você bateu a cabeça na carteira.

Fiz como Angélica disse, respirei fundo e me deitei. Realmente, estava com uma dor de cabeça gigantesca. Aos poucos tive alguns flashes do que aconteceu, mas não me lembrava de tudo. Coloquei a mão no pescoço, onde a garra de Bia se fechou, mas não havia sinal ou marca nenhuma.

- Olhe - disse Angélica, colocando a mão em minha cabeça para ver se eu estava com febre, - você ainda precisa se recuperar. Você está ardendo em febre. Pra você melhorar, vou aplicar um remédio intravenoso em você.

- Intravenoso...?

- Sim, uma dose de benzetacil.

- Não!!!

Eu gritei e me sentei novamente. Mesmo com a tontura de levantar rápido demais, com dor de cabeça e tal, fiz de tudo pra sair da maca, mas não consegui. Estava tonta e fraca demais. Foi fácil para a enfermeira me segurar.

- Calma Deb. O que foi?

- Por favor – eu disse quase em lágrimas. - Injeção não! Odeio injeção, por favor, não!

- Ok, ok! Calma. Tudo bem.

Aos poucos me acalmei, mas ainda estava meio zonza, e apavorada. Estava cabreira com a enfermeira. Mas ela me deu um sorriso tranquilizador, então sentei.

- Nossa menina, tudo isso por uma picadinha? Angélica disse com um sorriso.

A tensão acabou e consegui dar um sorriso amarelo pra ela.

- Eu... odeio picadinhas. Não sei por quê.

- Tudo bem - disse sorrindo, - apenas se acalme, ok?

Angélica colocou a mão sobre minha testa outra vez. Dessa vez, no entanto, ela franziu as sobrancelhas.

- Olhe, vou ser sincera com você. Se não tivesse sido eu quem mediu sua temperatura a alguns minutos, diria que é mentira. Sua febre sumiu. Nunca vi isso. Como está a cabeça?

Foi então que me dei conta de que não sentia mais dor. A tonteira também tinha sumido.

- Ahn... passou. Não sinto mais nada.

- Estranho... bom, é melhor assim. Vou deixar você mais uns cinco minutos em observação e vou avisar a Sra. Dulcinéia que você está de alta.

- Sra. Dulcinéia?

- Sim. Nossa diretora.

- Diretora... e a Bia?

- Que Bia?

- Bia, a diretora, ué.

Angélica franziu novamente as sobrancelhas. Seus olhos cor de mel enigmáticos como que sondando minha mente. Ela parecia realmente preocupada.

- Deb, não sei do que você se lembra exatamente... mas nunca ouve uma Bia aqui no Juarez.

- Isso é impossível. Eu... na sala... como você disse que eu cheguei aqui?

- Você desmaiou na sala de aula enquanto apresentava um trabalho. Acabou batendo a cabeça em uma carteira. Rod e o professor Tiburso trouxeram você.

- Rod... onde ele está? Pode chamá-lo?

- Creio não ser possível. Ele foi embora.

- Embora?

- Sim. Faz uns vinte minutos que as aulas acabaram. Ele insistiu em ficar aqui até você acordar, mas a sra Dulcinéia disse não ser preciso. Afinal, seus pais estão aqui, esperando para levá-la para casa.

Minha cabeça voltou a doer. Será que tudo foi um pesadelo? Eu nem me lembrava de estar apresentando um trabalho. Pelo menos, Rod tinha tentando ficar ali por ela. E meus pais estavam ali, então...

- Minha irmã... A Pri ta aqui?

Angélica me deu um sorriso compreensivo.

- Sua irmã já foi pra casa, de ônibus. Ela também queria ficar, mas não precisava. Seus pais ficaram para levá-la.

Parei um pouco e pensei um pouco sobre a situação.

- Certo então. Quero ir pra casa. Já me sinto bem melhor.

Angélica me olhou por um tempo, como se relutasse em concordar, mas acabou dando outro de seus sorrisos “está tudo bem”, e assentiu com a cabeça.

- Ok. Vamos fazer o seguinte. Vou falar com a diretora e dizer que você está bem, e foi embora com seus pais. Vai ser nosso segredinho, ok?

- Ok. Muito obrigada mesmo, Angélica.

- Que é isso, disponha. Quem sabe logo não é você que precisa me dar uma mãozinha?

- Pode contar com isso. Se precisar de algo, é só me falar.

Angélica me deu um abraço, e depois me ajudou com minhas coisas. Acompanhou-me até a porta e ficou olhando enquanto eu ia ao encontro de meus pais. Foi então que eu ouvi um sussurro na minha mente.

“Com certeza Deb, quando chegar a hora, vou me lembrar de sua promessa.”

Olhei para trás, mas não tinha mais ninguém lá. Franzi a testa, mas resolvi deixar pra lá. Fui em direção aos meus pais. Precisava ir para casa.





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